As 20 cidades mais violentas da Amazônia Legal: facções, garimpo e disputas territoriais impulsionam explosão da violência

Novo estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra expansão acelerada do crime organizado, que já alcança quase metade dos municípios da Amazônia Legal.

A violência na Amazônia Legal atingiu um novo patamar. Um estudo recente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) revela que facções criminosas, garimpo ilegal e conflitos fundiários transformaram a região em um dos maiores epicentros de homicídios do país. A pesquisa, que analisou dados dos últimos três anos, mostra que 45% das 772 cidades da Amazônia Legal já têm presença de facções, um salto de mais de 30% em relação ao ano anterior.

 

A expansão do crime organizado, combinada à ausência histórica do Estado, reforça dinâmicas perigosas. Territórios estratégicos para o tráfico, corredores rodoviários e áreas de garimpo se tornam alvos de disputas entre grupos rivais, elevando drasticamente as taxas de mortes violentas.

No Brasil, essas mudanças acontecem de maneira desigual. Enquanto algumas empresas já operam com processos altamente digitalizados e equipes híbridas, grande parte da força de trabalho ainda enfrenta precarização, baixa qualificação e dificuldades de adaptação. O futuro do trabalho, portanto, não é um destino único: é um conjunto de caminhos que podem ampliar oportunidades ou aprofundar desigualdades.

Como o estudo foi feito

O levantamento “Cartografias da Violência na Amazônia” analisou registros oficiais de mortes violentas intencionais e organizou os municípios por porte populacional. As taxas foram calculadas por 100 mil habitantes, permitindo comparar cidades de diferentes tamanhos.

 

As nove unidades federativas da Amazônia Legal — Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins — apresentaram cenários distintos, mas com um denominador comum: o avanço de facções como Comando Vermelho (CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC), além de grupos regionais e internacionais, como o Tren de Aragua (Venezuela) e dissidências da ex-Farc.

As 20 cidades mais violentas da Amazônia Legal

Segundo o estudo, as cidades com maiores taxas de mortes violentas combinam três elementos principais: posição estratégica para o tráfico internacional, presença de garimpo ilegal e conflitos agrários. Aqui estão os principais destaques, de maneira reescrita e resumida:

  • Vila Bela da Santíssima Trindade (MT) – Porta natural para o tráfico pela proximidade com a Bolívia.

  • Nobres (MT) – Disputas entre CV e PCC intensificam os homicídios.

  • Calçoene (AP) – BR-156 funciona como corredor do tráfico entre Macapá e Oiapoque.

  • Alto Paraguai (MT) – Dominado pela Tropa do Castelar, facção dissidente do CV.

  • Cumaru do Norte (PA) – Violência ligada a conflitos de terra, garimpo e facções.

  • Rio Preto da Eva (AM) – Confrontos constantes entre PCC e CV.

  • Barra do Bugres (MT) – Disputa entre facções pelo escoamento de drogas vindas da Bolívia.

  • Aripuanã (MT) – Garimpo ilegal e presença de facções em território indígena.

  • Novo Progresso (PA) – BR-163 como eixo do tráfico; conflitos fundiários.

  • Mocajuba (PA) – Violência policial responde por metade das mortes violentas.

  • São Félix do Xingu (PA) – Desmatamento, conflitos rurais e facções coexistem.

  • Coari (AM) – Corredor hidroviário estratégico no médio Solimões.

  • Iranduba (AM) – Região metropolitana de Manaus absorve a violência da capital.

  • Tabatinga (AM) – Tríplice fronteira Brasil-Peru-Colômbia; rota-chave da cocaína.

  • Santa Inês (MA) – BR-316, BR-222 e ferrovia Carajás tornam o município ponto logístico.

  • Sorriso (MT) – Guerra territorial entre CV e PCC desde 2023.

  • Santana e Macapá (AP) – Concentram quase 80% das mortes do estado; rota para crime transfronteiriço.

  • Altamira (PA) – Extenso território com histórico de grilagem e facções (CCA e CV).

  • Itaituba (PA) – Garimpo, crimes ambientais e tráfico se entrelaçam.

Por que a violência cresceu tanto?

Especialistas do FBSP apontam que a Amazônia se tornou estratégica para diferentes organizações criminosas. O CV ampliou sua presença para 286 cidades da região, crescimento de 123% desde 2023. A facção disputa o controle do tráfico tanto no varejo quanto no atacado, expandindo-se por meio de “franquias” locais.

 

Já o PCC, mais centralizado, atua de forma diferente: estabelece parcerias com grupos regionais, controlando corredores de grande volume, como a “rota caipira”, que liga fronteiras do Centro-Oeste aos portos do Sudeste.

 

A combinação explosiva de facções em guerra, garimpo ilegal e ausência de serviços públicos cria territórios onde a lei do crime domina, e o Estado não chega.

O papel das fronteiras e das rotas do tráfico

A presença de facções está diretamente ligada à localização geográfica. Estados que fazem fronteira com grandes produtores de coca — Peru, Colômbia e Bolívia — apresentam índices muito mais elevados de presença criminosa.

  • Acre: presença de facções em 100% dos municípios.

  • Roraima: 80%.

  • Amapá: 62%.

  • Pará: 63%.

  • Mato Grosso: 65%.

Em contraste, o Tocantins, distante das rotas internacionais, tem apenas 12% dos municípios influenciados por facções.

Violência de gênero, estupros e exploração

Um dado alarmante do estudo é o aumento da violência contra mulheres. Os feminicídios são 19% mais altos na Amazônia do que a média nacional, e os estupros cresceram na região, enquanto caíram no restante do Brasil.
Pior: 80% das vítimas são crianças e adolescentes com 14 anos ou menos.

Também preocupa a interferência das facções na vida privada das mulheres: em vários territórios, grupos criminosos impõem regras de comportamento, chegando ao ponto de exigir “autorização” para que mulheres terminem relacionamentos.

O que está em jogo

A Amazônia Legal se tornou peça-chave para o crime organizado brasileiro e internacional. A disputa por rotas, garimpos e áreas de desmatamento deixa cidades inteiras vulneráveis e empurra comunidades para um cenário de violência crescente.

Enfrentar esse ciclo envolve políticas de segurança integradas, presença do Estado no território, proteção ambiental e articulação entre países vizinhos. Sem isso, a região continuará sendo terreno fértil para facções e para o avanço da economia ilegal, com impactos diretos na vida de milhões de brasileiros.

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