A proposta de criação de uma nova região administrativa reorganiza fronteiras da cidade e levanta debates sobre representatividade, serviços e identidade local.
A geografia política do Rio de Janeiro é marcada por suas zonas — Norte, Sul, Oeste e Central —, cada uma com características sociais e culturais próprias. Agora, a discussão sobre a criação de uma Zona Sudoeste recoloca em pauta a forma como a cidade se organiza e se enxerga. A proposta prevê a oficialização de uma nova divisão territorial, reunindo bairros hoje distribuídos entre diferentes zonas administrativas.
Para seus defensores, a medida busca dar mais representatividade a comunidades que não se identificam totalmente com as zonas em que foram alocadas. Críticos, por outro lado, alertam para o risco de fragmentação e para os desafios de gestão de serviços públicos em uma cidade já marcada por desigualdades estruturais.
A ideia de criar a Zona Sudoeste não é nova, mas vem ganhando força em debates políticos e acadêmicos. A região seria formada por bairros situados entre a Zona Norte e a Zona Oeste, como Jacarepaguá, Tanque, Anil, Pechincha e adjacências. Esses territórios compartilham características próprias de urbanização, economia e mobilidade que muitas vezes não encontram correspondência plena nas zonas tradicionais.
Ao reconhecer oficialmente a existência da Zona Sudoeste, a Prefeitura teria que redefinir serviços, estatísticas e representações políticas. Isso inclui desde a organização de conselhos comunitários até a redistribuição de investimentos em saúde, educação e transporte.
Para os moradores, a criação da Zona Sudoeste pode significar maior visibilidade diante do poder público. A integração de bairros que enfrentam problemas semelhantes — como trânsito intenso, déficit de transporte coletivo e crescimento urbano acelerado — pode favorecer a elaboração de políticas específicas.
Por outro lado, há dúvidas sobre a real eficácia da mudança. Especialistas apontam que a simples criação de uma nova zona administrativa não garante melhorias se não vier acompanhada de planejamento, orçamento e engajamento das comunidades locais. O risco é que a medida fique restrita ao campo simbólico, sem efeitos concretos na vida cotidiana.
Além do aspecto administrativo, a Zona Sudoeste traz consigo uma questão de identidade. Muitos moradores desses bairros não se reconhecem nem como Zona Norte, nem como Zona Oeste, argumentando que suas realidades sociais e culturais são distintas.
O reconhecimento oficial, portanto, teria também um valor simbólico: dar nome e voz a uma região que, até hoje, vive em uma espécie de “limbo geográfico”. Esse aspecto de pertencimento pode reforçar o engajamento comunitário e ampliar a participação política de seus habitantes.
A proposta de criação da Zona Sudoeste mostra como a organização territorial de uma cidade não é apenas técnica, mas profundamente política. A forma como os espaços são divididos define prioridades de investimento, identidade cultural e representatividade social.
Para o Rio de Janeiro, trata-se de uma oportunidade de repensar sua estrutura urbana, corrigir distorções históricas e fortalecer a gestão pública. Mas o sucesso dependerá da capacidade de transformar essa ideia em políticas concretas que melhorem, de fato, a vida dos cariocas.
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