Trens, metrô, ônibus, barcas e BRT deveriam formar um sistema conectado. Em vez disso, milhões de cariocas enfrentam longas viagens, baldeações ruins e tarifas incompatíveis com a renda.
A mobilidade na Região Metropolitana do Rio de Janeiro é marcada por um paradoxo: existe uma das maiores redes de transporte público do país, mas o sistema funciona como se cada modal fosse uma ilha isolada. Trens que não conversam com o metrô, BRT desconectado de linhas alimentadoras, ônibus que duplicam rotas, barcas cada vez mais esvaziadas e um passageiro que, para se deslocar, precisa combinar paciência com improviso.
De Niterói a Duque de Caxias, de São Gonçalo a Maricá, o drama é o mesmo: a falta de integração tarifária, operacional e estrutural aumenta o tempo de viagem, encarece o transporte e empurra a população para alternativas como carros, motos e aplicativos. O resultado é um trânsito cada vez mais saturado e um transporte público cada vez mais distante da realidade ideal.
Os trens da SuperVia deveriam ser o eixo central da mobilidade metropolitana, conectando Baixada, Zona Norte e Centro do Rio. Porém, o que se vê é um sistema colapsado por falhas técnicas, atrasos constantes, interrupções de serviço e vandalismo.
As composições operam frequentemente com superlotação, ar-condicionado inoperante e intervalos muito acima do ideal. Moradores de Japeri, Nova Iguaçu, Queimados, Belford Roxo e Santa Cruz relatam viagens que deveriam durar 50 minutos e acabam ultrapassando duas horas. A insegurança nos trens e nas estações também desencoraja passageiros, que dependem desse modal por falta de alternativas reais.
O metrô do Rio é moderno e eficiente no que cobre — mas cobre pouco. Expandido às pressas para as Olimpíadas, o sistema segue restrito principalmente à Zona Sul e Tijuca. A ligação com a Barra através da Linha 4 existe, mas não integra plenamente a malha.
O BRT deveria atuar como extensão natural do metrô, mas enfrenta problemas graves: frota insuficiente, estações depredadas, corredores abandonados e lotação diária. A falta de sincronização entre horários e o difícil acesso às integrações fazem com que o trajeto se torne cansativo e lento. O potencial do BRT de reduzir baldeações e melhorar fluidez foi substituído por um sistema que luta para se manter minimamente funcional.
As barcas, que já foram símbolo da ligação entre Rio e Niterói, vivem um declínio visível. Com horários reduzidos, tarifas elevadas e embarcações envelhecidas, o modal perdeu competitividade para carros e aplicativos.
A travessia poderia ser alternativa estratégica para aliviar o trânsito da Ponte Rio–Niterói, mas a falta de investimentos, a ausência de integração tarifária e a queda na demanda afastam o modal de seu potencial real. Moradores de São Gonçalo, por exemplo, não têm sequer uma opção hidroviária, obrigando deslocamentos longos e caros para o Rio.
Nenhum sistema de transporte urbano funciona bem sem integração tarifária. No Rio, isso simplesmente não existe de maneira eficiente. Quem sai de Itaboraí, Nova Iguaçu ou São Gonçalo e precisa pegar mais de um modal paga múltiplas passagens, algo inviável para trabalhadores de baixa renda.
A ausência de um bilhete único metropolitano real aumenta o custo mensal de transporte, empurra usuários para a informalidade e reduz a competitividade do sistema público. A falta de coordenação entre prefeituras e governo estadual dificulta qualquer modelo integrado de longo prazo.
Com a precariedade do transporte público, o uso de transportes por aplicativo se tornou regra em muitos trajetos. Mas, nos últimos anos, os preços dispararam. Hoje, viagens curtas podem custar o mesmo que duas passagens de ônibus e viagens longas são proibitivas.
Ao mesmo tempo, o aumento de carros de app contribui para congestionamentos nas vias metropolitanas, especialmente no Centro e na Zona Sul. O trânsito é agravado por falta de planejamento e pela dependência crescente desse tipo de serviço.
A Região Metropolitana do Rio precisa urgentemente de uma política integrada de mobilidade. Não é possível falar em qualidade de vida, desenvolvimento econômico ou redução de desigualdade sem um sistema de transporte eficiente, barato e conectado.
Sem integração entre trens, metrô, ônibus, barcas e BRT, a cidade continuará fragmentada e o trabalhador seguirá pagando o preço, em dinheiro e em horas perdidas. O futuro do transporte no Rio depende de escolhas estruturais, que exigem planejamento de longo prazo, compromisso político e uma visão metropolitana de verdade.
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