O Rio de Janeiro enfrenta sobrecarga em hospitais, filas nas UPAs e escassez de profissionais. Como reorganizar a rede após a maior crise sanitária da história recente?
A pandemia de Covid-19 expôs de forma dramática as fragilidades da saúde pública no Rio de Janeiro. Hospitais lotados, falta de leitos e dificuldade de acesso a exames escancararam problemas antigos da rede municipal. Dois anos após o fim da emergência sanitária, os desafios permanecem: filas intermináveis nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), carência de médicos e dificuldade em manter serviços básicos de forma regular.
A capital fluminense, que já convivia com desigualdades no atendimento entre regiões, agora precisa lidar com a demanda reprimida e o impacto econômico da crise sanitária. O resultado é uma rede em constante pressão, que tenta equilibrar limitações orçamentárias com a necessidade de atender milhões de cariocas.
As Unidades de Pronto Atendimento foram criadas para desafogar os hospitais, oferecendo atendimento de urgência intermediário. No Rio, elas se tornaram referência, mas enfrentam superlotação diária. A demanda é tão alta que muitas vezes as UPAs funcionam como porta de entrada principal para o sistema de saúde, mesmo para casos que deveriam ser resolvidos na atenção básica.
Essa sobrecarga gera um efeito cascata: demora no atendimento, insatisfação dos pacientes e esgotamento dos profissionais. Sem investimentos em expansão e melhoria da atenção primária, as UPAs continuarão operando além da sua capacidade planejada.
Os hospitais municipais enfrentam problemas estruturais graves. Muitos prédios são antigos, carecem de manutenção e não conseguem atender à demanda crescente. A escassez de leitos de UTI, agravada na pandemia, continua sendo um gargalo, assim como a falta de equipamentos modernos e insumos regulares.
Além disso, há um déficit de profissionais de saúde. Médicos e enfermeiros reclamam de baixos salários, excesso de plantões e condições precárias de trabalho. Essa situação resulta em alta rotatividade e desmotivação, comprometendo a qualidade do atendimento.
Um dos maiores obstáculos para melhorar a saúde pública no Rio é a gestão dos recursos. O orçamento destinado ao setor é alto, mas problemas de planejamento, corrupção e contratos emergenciais mal fiscalizados drenam parte significativa dos investimentos.
Sem transparência e controle eficiente, a população continua enfrentando os mesmos problemas, mesmo após aportes milionários. A descentralização da gestão, por meio de Organizações Sociais (OSs), trouxe flexibilidade, mas também abriu espaço para denúncias de má administração e desvios.
A pandemia fez com que milhares de consultas, exames e cirurgias fossem adiados. Hoje, essa demanda reprimida pressiona ainda mais a rede. Pacientes que poderiam ter sido atendidos em estágios iniciais agora chegam com quadros agravados, exigindo tratamentos mais caros e complexos.
Isso cria um ciclo perverso: quanto mais o atendimento é postergado, mais difícil e oneroso se torna resolver os casos. A falta de programas permanentes de acompanhamento e prevenção agrava o problema.
Garantir saúde pública de qualidade no Rio exige mais do que inaugurar novas unidades. É preciso investir em manutenção, valorizar os profissionais, fortalecer a atenção básica e implantar uma gestão transparente e eficiente. Sem isso, a rede continuará sobrecarregada, com UPAs e hospitais operando no limite.
A pandemia deixou lições importantes: sistemas de saúde resilientes salvam vidas e sustentam a economia. Se essas lições não forem transformadas em políticas concretas, o Rio seguirá convivendo com filas, improvisos e a frustração de uma população que tem o direito constitucional de ser atendida com dignidade.
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