Os Estados Unidos sempre foram um dos principais destinos das exportações brasileiras, com destaque para produtos agrícolas, minerais e industriais. Durante décadas, o mercado norte-americano foi considerado estratégico para o Brasil, garantindo divisas e estimulando setores que iam do agronegócio à indústria de base.
Nos últimos anos, no entanto, essa relação tem sido marcada por tensões crescentes. A imposição de tarifas adicionais pelos EUA, as disputas comerciais em áreas estratégicas e a concorrência chinesa alteraram o equilíbrio. Hoje, o Brasil precisa lidar com a dualidade: manter os Estados Unidos como parceiro privilegiado, mas ao mesmo tempo reduzir a dependência diante das pressões econômicas e políticas externas.
Em 2024, o Brasil exportou cerca de US$ 40 bilhões em bens para os Estados Unidos. Os principais produtos enviados foram derivados de petróleo, aço, celulose, ferro-níquel, além de bens agrícolas como café e suco de laranja. O país também importa em volume similar, mantendo uma balança quase equilibrada, com os EUA registrando superávit em alguns anos.
Apesar dos números expressivos, a participação relativa dos Estados Unidos nas exportações brasileiras vem diminuindo. No início dos anos 2000, os norte-americanos eram o principal destino das vendas externas do Brasil. Hoje, foram ultrapassados pela China, que responde por mais de um quarto das exportações nacionais. Isso significa que, embora ainda sejam um parceiro crucial, os EUA perderam espaço na pauta comercial brasileira.
Em 2024, Washington decidiu aplicar tarifas extras sobre parte das exportações brasileiras, atingindo setores como aço, automóveis, máquinas e produtos químicos. Estima-se que cerca de 36% das exportações brasileiras para os EUA ficaram sujeitas a sobretaxas, com alíquotas que chegaram a 50%. Para alguns segmentos, como o siderúrgico, essa medida representou risco direto de queda nas vendas e perda de competitividade.
Por outro lado, quase metade da pauta exportadora brasileira foi poupada, incluindo produtos estratégicos como celulose e ferro-níquel. Essa seletividade mostra que as tarifas não foram pensadas apenas em termos econômicos, mas também como instrumento político e diplomático. Para o Brasil, a mensagem foi clara: os Estados Unidos continuam sendo mercado vital, mas não hesitam em impor barreiras quando seus interesses estão em jogo.
Alguns setores brasileiros têm no mercado dos Estados Unidos seu principal destino de exportação. É o caso do aço, que há anos enfrenta barreiras tarifárias recorrentes. O mesmo ocorre com o setor automobilístico, que depende da integração das cadeias produtivas entre América do Sul e América do Norte.
No agronegócio, os EUA também são parceiros importantes, especialmente no café, no suco de laranja e em produtos florestais. Ainda assim, a concorrência internacional — principalmente de países asiáticos e latino-americanos — pressiona os produtores brasileiros, exigindo investimentos em tecnologia e agregação de valor.
O primeiro desafio para o Brasil é reduzir a vulnerabilidade diante de medidas unilaterais norte-americanas. Isso passa por diversificar destinos de exportação, fortalecendo laços com mercados emergentes, e valorizar a produção nacional, agregando tecnologia e inovação aos produtos.
Outro caminho é diplomático. O Brasil precisa negociar em fóruns multilaterais e bilaterais para defender seus setores estratégicos, evitar retaliações excessivas e ampliar acordos que deem mais previsibilidade aos empresários. Ao mesmo tempo, é preciso equilibrar a relação com os EUA e com a China, evitando cair em disputas geopolíticas que não favorecem o país.
As exportações brasileiras para os Estados Unidos continuam sendo fundamentais, mas o cenário atual revela fragilidades. Tarifas adicionais, concorrência internacional e a perda de participação relativa exigem que o Brasil repense sua estratégia. O desafio é manter a parceria histórica sem cair em dependência, diversificar mercados e usar o comércio exterior como instrumento de desenvolvimento soberano.
Seja no agronegócio, na indústria ou na mineração, o futuro da relação comercial entre Brasil e Estados Unidos dependerá menos da tradição e mais da capacidade de adaptação a um mundo em rápida transformação.
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